Álvaro Cunhal: pensamento<br>e luta actuais

Manuel Rodrigues (Membro da Comissão Política)

Decorreram 10 anos sobre o falecimento do camarada Álvaro Cunhal, que, como homem, comunista, intelectual e artista foi objecto de uma grande homenagem nas comemorações do 100.º aniversário do seu nascimento. Preferindo evocar o seu exemplo celebrando a data do seu nascimento, importa, no entanto, também neste momento, sublinhar aspectos marcantes do seu pensamento e luta com particular actualidade.

A vida continua a dar razão ao acervo de reflexões de Álvaro Cunhal

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Referimos, em síntese, alguns aspectos do acervo das suas análises e acção, a que a vida deu e continua a dar razão: «nas tendências da evolução do mundo contemporâneo e na incansável actividade internacionalista e de solidariedade com os trabalhadores e os povos e em prol do movimento de libertação nacional, das forças anti-imperialistas e do fortalecimento do movimento comunista»; «na denúncia da posição do fascismo que falava da “natural pobreza do país” para encobrir a política de rapina e exploração dos trabalhadores e do povo a favor dos grupos monopolistas, aspecto que nos nossos dias ganha nova evidência com a promoção e a defesa do empobrecimento e do agravamento da exploração»; «na consideração do papel de classe do Estado e do seu uso coercivo, com as privatizações e os seus mais diversos mecanismos ao serviço do capital monopolista, cujo domínio sobre a economia está na base do caminho de declínio e desastre nacional em curso»; «na valorização do aparelho produtivo e da produção nacional como elemento central de soberania e desenvolvimento do País»; «na afirmação do papel da classe operária e dos trabalhadores, da sua organização e unidade, da formação de uma grande frente social abrangendo classes e camadas antimonopolistas e do papel central da luta de massas, e na consideração de que, sejam quais forem as circunstâncias existentes, a luta é sempre necessária e vale sempre a pena, porque é ela e a força que dela emana que, em última instância, determina a evolução dos acontecimentos, a transformação da sociedade»; «na valorização do colectivo partidário, na definição da identidade comunista, na necessidade de reforço do Partido e na afirmação do seu papel. Aspectos que nos dias que vivemos se projectam com redobrado apelo ao reforço do PCP, o partido necessário, indispensável e insubstituível aos trabalhadores, ao povo e ao País»(1); na definição do ideal e do projecto comunistas e na sua projecção no futuro.

Análises acertadas

Entre esses aspectos, destaca-se, quando se assinala os 30 anos sobre a assinatura do Tratado de Adesão de Portugal à CEE, a análise de Álvaro Cunhal sobre o significado político e as consequências desta decisão do governo português. Uma decisão, considerava Álvaro Cunhal no Encontro do PCP sobre Independência Nacional (Outubro de 1990), a exigir «que se coloque em primeiro plano, como um dos pontos centrais da política portuguesa, a necessidade de defender e assegurar a independência e soberania nacionais» e combater «esquemas de supranacionalidade» que, como o processo de integração capitalista europeia viria a confirmar, «se convertem em instrumentos de acentuação de desigualdades, de efectivo domínio de uns sobre os outros, de efectiva submissão de uns por outros, com sacrifício da sua independência e soberania».

Álvaro Cunhal sublinhava que o bom caminho para Portugal seria a «cooperação internacional em que decisões internacionais sejam obtidas em pé de igualdade, com reciprocidade de vantagens, com respeito pela independência e soberania dos estados e povos» e lembrava a firme atitude de sempre do PCP na defesa da independência e soberania nacionais, em conexão com os outros objectivos de luta do Partido.

Tal não foi, porém, a opção dos partidos da política de direita (PS, PSD e CDS), que, no processo de reconstituição e restauração do capitalismo monopolista, utilizaram sempre a integração europeia para desenvolver uma forte e contínua ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, destruição do aparelho produtivo e entrega dos grandes sectores estratégicos da nossa economia ao grande capital.

Essa opção é responsável pela situação de declínio nacional a que chegámos e que impõe hoje a necessidade de ruptura com a política de direita e a concretização de uma alternativa patriótica e de esquerda. Alternativa necessária e possível, como ficou demonstrado na Marcha Nacional de 6 de Junho. Com a força do povo, com a luta e o voto na CDU, é possível um Portugal independente e soberano, que é o mesmo que dizer, um Portugal com futuro.


(1) Extractos da Fotobiografia de Álvaro Cunhal (Edições Avante!)




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